lunes, octubre 02, 2006

Fernando Pessoa.... y Madredeus


Me gusta mucho este poeta portugués....a veces el poeta de la desesperanza....

Recuerdo que lo descubrí a través de una película de Win Wenders, "Historias de Lisboa",donde además aperecía el Grupo Madredeus.....

Con Teresa Salgueiro a la cabeza y su dulce y angelical voz....recomendable la canción "Haja O Que Houver " y "A Margem", una especie de nuevo fado....remasterizado. Muy interesante.....

http://www.amazon.com/O-Paraiso-Madredeus/dp/B00002JX44

http://shopping.yahoo.com/p:Antologia:1921414586




Lembras-te ainda de mim?

Tu conheceste-me há muito tempo...

Eu era aquela crianÇa triste de quem tu nâo gostavas,

E por quem depois, pouco a pouco, te foste interesando

(Pela angustia, e a tristeza, e mais qualquer cousa,)

E de quem tu acabaste por gostar, quasi sem o saber;

Lembras-te? A CrianÇa triste que brincava na praia

Sozinha, longe dos outros, sossegadamente,

E de vez em quando lhes lanÇava un olhar triste mas sem

pena...

Vejo que olhas para mim disfarÇadamente de vez em quando...

Estás recordado? Queres ver se te recordas? bem sei...

Sem saber sentes ainda no meu rostro calmo e triste

A crianÇa triste que brincava sempre longe dos outros

E de vez em quando olhava tristemente para eles, mas sem pena?

Sei que olhas, e que nâo comprendes qual tristeza

Que me mostra triste...

Que nâo é pena, nem é saudade, nem desgosto, nem mágoa...

Ah, é a tristeza

Daquele a quem, no grande solo antenatal,

Deus daria o Segredo-

O segredo da vacuidade absoluta das cousas,

E da ilusâo do mundo-

A tristeza irreparable

Daquele que sabe que nada serve nem vale,

Que o esforÇo é um absurdo desgaste,

Que a vida é um espaÇo vazio,

Porque a desilusâo vem sempre a través da ilusâo

E parece que a Morte é o sentido da Vida...

E isto, mas nâo é só isto, que tu vês no meu rostro

E faz com que loes para mim, de vez em quando, disfarÇadamente...

Sim, é isto que pôe

Uma Belice anterior à minha infancia na minha face

E no meu olhar uma angustia interior à minha alegria.

Olhas-me disfarÇadamente, de vez em quando,

E nâo me comprendes,

E tornas a olhar, disfarÇadamente e sempre...

Sem Deus nâo há vida nesta vida

E nâo poderás nunca compreender...

F. Pessoa

No hay comentarios.: